sexta-feira, 7 de novembro de 2008

The Shining (1980)

O filme é bem ruim, praticamente uma licença poética sobre a obra a qual foi baseada. A mídia e a crítica acabou "abraçando" essa pequena aberração por ser obra de Stanley Kubrick. Se fosse exatamente o mesmo filme, dirigido pelo João da padaria, as críticas seriam pesadíssimas. Críticos de cinema (os que ganham dinheiro com isso) são totalmente presos a esteriótipos e costumam enxergar "grandes obras" em versões desastrosas como essa. Kubrick é um ótimo diretor, realizou trabalhos fantásticos, mas isso não é motivo para tratá-lo como "deus" (em minúsculo mesmo).

Se fosse uma obra teatral, onde existem severas limitações, essa versão do clássico de King seria até aceitável. O problema é que estamos falando de um filme, onde o universo de recursos é quase infinito e, como o filme se propõe a ser um filme de suspense (mais que terror), definitivamente não consegue. É fraco, o suspense chega a ser monótono e previsível (talvez, em parte por já ter conhecido o livro antes de ver o filme). Não é porque foi feito pelo, muitas vezes caricato, Kubrick que mereça ser chamado de grande filme. Ou mesmo pelas manias incontroláveis do diretor de repetição a exaustão das cenas ou o uso de tecnologia de ponta na época. Isso foi um dos principais fatores que fizeram com que o filme ganhasse o ar de "clássico" que ganhou, mesmo sem merecer.

As atuações são boas, especial de Jack Nicholson, mas estão muito longe de serem as maravilhosas como pintam ou (tentam) nos fazer acreditar. Já Danny Lloyd, pobre coitado, fez o que pode para segurar as cenas patéticas dele conversando com o próprio dedo, criação bastante bizarra de Kubrick. Tem muita coisa a ser dado mais valor e que, por cretinice, não se reconhece. Esse é o trabalho dos críticos de cinema.

Para não dizer que é só crítica, a cena do sangue todo vazando o elevador e chegando ao corredor é sensacional, mesmo que quase sem propósito. E o cenário nas montanhas é magnífico, sem contar pelo fato de terem citado a incrível história conhecida como "The Donner Party".

Esse filme é uma obra non-sense, quase metafórica (me recuso a acreditar que alguém consiga ficar tenso com esse filme). Uma mera exposição da arte (completamente abstrata) de Kubrick sem uma clara definição do que realmente é - talvez daí venha tantas opiniões contraditórias. Só que nem tudo que tem uma "qualidade abstrata" necessariamente é bom - como eu disse o nome "Kubrick" impõe uma responsabilidade que o filme não tem.

A crítica americana caiu pesado em cima do filme antes do "endeusamento" que é feito a Kubrick, simplesmente porque não se prenderam a um (ótimo) diretor para tecer a crítica a um filme por si só.

"Com tudo na mão, o diretor Stanley Kubrick se aliou a um irriquieto Jack Nicholson para destruir tudo o que havia de aterrorizante no best-seller de Stephen King...... quanto mais maluco fica Nicholson, mais idiota parece. Shelley Duvall transforma a acolhedora e compreensiva esposa do livro em uma histérica caricatural e semi-retardada."
Revista Variety, na época do lançamento.

"Só porque você é perfeccionista, não quer dizer que seja perfeito"
Jack Nicholson, durante as filmagens.

"Há dois problemas básicos [quanto a adaptação de sua obra]: primeiro, Kubrick é um homem muito frio, pragmático e racional, um cético visceral. Além disso, tem grande dificuldade em conceber, mesmo que academicamente, um mundo sobrenatural. Ele não acreditava."
Stephen King, o tal que escreveu "The Shining", desaprovando a adaptação.

Ou seja, se o próprio autor desgostou do resultado é, no mínimo, de se pensar se há tanta qualidade quanto se vê (ou que querem que veja). Repito novamente, para não parecer perseguição: Kubrick, um dos maiores diretores da história, de filmes fantásticos. Só que, nem tudo o que ele faz, há que se reverenciar. E definitivamente, esse filme não merece. É ruim, muito ruim.

Melhor ficar com a série lançada em 1997, que depois virou filme de 5 horas. Mais aterrorizante (não era essa a proposta inicial?), mais verdadeira e menos "artística". Curioso é que essa recebe críticas pesadas, apesar de estar bem mais próxima do livro em que foi baseada. Será que as opiniões (dos tais) seriam as mesmas se no lugar do nome "Mick Garris" estivesse "Stanley Kubrick"??? Eu não tenho a menor dúvida.

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