No início da década de 90, eu morava em São Paulo. Zona Leste, lugar com muitos 'focos' de pobreza, mas também um tanto quanto tranquilo em determinados lugares. E tranquila era a rua onde eu morava. Claro, se desconsiderar os dois assaltos nos mais de 10 anos que minha casa sofreu. De qualquer forma, as crianças ainda podiam brincar nas ruas até noite, era uma rua sem saída. Todo um lado da rua era preenchido pela creche, que não me vem o nome a cabeça nesse momento. Do outro lado, casinhas simples, sobrados, de dois andares em sua maioria. Poderia ser considerado facilmente um lugar de classe média, população com poder aquisitivo relativo, mesmo todos tendo que trabalhar demais. Lugar que, ainda e época, fazia frio no inverno. E essa é uma das mais gostosas lembranças que posso ter. De um lugar aconchegante, principalmente no frio, de vizinhos que, tirando um entreveiro e outro, eram amigos. Vida simples, trabalhadora, sem grandes mordomias, mas tranquila.
Nessa época, no ano de 1990, eu tinha exatos 6 anos. Meu primeiro último ano na creche, onde o portão de entrada ficava a menos de 15 metros da porta da minha casa. Ainda me lembro dos dias frios, quando minha mãe fazia com que eu colocasse duas blusas de frio, antes de me deixar na creche e ir trabalhar no posto do Banespa da Eletropaulo. O dia passava na creche, extremamente rápido, eram horas de diversão com poucas responsabilidades. Não tínhamos provas, exercícios, tarefas. Aprendíamos brincando. As professoras eram legais, raras eram as broncas. A maioria das crianças eram da região mais pobre do Bairro do Limoeiro. Eram 3 refeições ao dia. A última começava as 16:30 hs, era quase sempre sopa. Segundo minha mãe (e acredito nela), até hoje não gosto de sopa talvez por causa disso. Talvez tenha enjoado, afinal foram anos nessa rotina de sopa no fim do dia na creche. Não que fosse ruim, na época eu comia bem. Mas depois com o tempo, qualquer sopa que seja não me desce mais. Um miojo por ano já é o suficiente pra completar meu 'estoque'. E ainda estou alguns anos devedores, hehehe. Pouco me lembro de situações isoladas dessa época. Minha memória não gosta de mim, e eu não gosto dela, pois vivemos nos traindo o tempo todo. Mesmo assim, essa rotina, as boas lembranças do geral, de coisas simples ainda me vem a cabeça, quando estou parado no trânsito da Marginal Tietê, quando estou me 'concentrando' pra dormir, qualquer hora em que não esteja ocupado e me estressando com o dia a dia. Me faz bem, me lembra a melhor época da minha vida. Época boa que não volta mais. E que dá saudades, e que saudade!
Nos dois anos seguintes, 1991 e 1992, comecei na escola. Um baita tabu para uma criança. Chorava e chorava nos primeiros dias de Colégio Olivetanos, no tradicional bairro da Penha. Uma baita escola. Linda, prédio em estilo gótico, controlado por freiras. Não era uma escola de formação religiosa, mas tinha o controle dessa. Nos dias nublados e frios (minha preferência), parecia que as coisas ficavam ainda melhores. Um clima gostoso, aulas novas, nova vida. Pra ir para a escola, eram feitos revezamento dos pais na ida e na volta, entre as crianças do bairro. Não me lembro de haver vans escolares na época, pelo menos não naquele bairro, mas já deviam existir. As intermináveis lotações paulistanas eram presentes, mas passavam longe do coitado do Limoeiro velho de guerra. Ia até a casa do Thiago e da Camila no fim da rua de cima, esperando pela hora de ir para o Olivetanos na hora do almoço. Isso durou até 1° de janeiro de 1993, quando me mudei para Araras. Realmente não entendo porque essa época me encanta tanto, me dá tantas saudades, mesmo me lembrando bem pouco dos detalhes. Vivi ótimos momentos aqui em Araras, mas nada se compara a essa época da minha vida. Eram tempos excelentes, de amigos inesquecíveis (ainda continuo a procura dos restantes no Orkut).
E o que TMNT (Teenage Mutant Ninjas Turtles, ou simplesmente Tartarugas Ninjas) e Ghostbusters (os Caça-Fantasmas) tem a ver com isso? Poxa vida, esses dois desenhos eram o resumo daquela época. Algo que, hoje, eu posso ver e relembrar dessa época. Das coisas boas, de como esses dois desenhos eram importantes pra mim naqueles anos dourados.
Dos poucos detalhes que consigo lembrar dessa época, sempre eles estão envolvidos. Me lembro de um dia chuvoso na creche, quando alguma coisa aconteceu e precisaram nos dispensar mais cedo, no hora do almoço, mais ou menos. Não me lembro o porquê da dispensa, mas as professoras precisaram ir embora. Fui embora, fui pra minha casa, bem em frente a creche. Enquanto outras crianças ainda tinham que andar bem com suas mães debaixo do guarda-chuva, eu atravessava a rua e chegava a meu lar doce lar. E estava chovendo, fazia frio. E chego em casa, ligo a TV, e começa a passar o filme dos Caça-Fantasmas na TV. Nossa, que dia feliz! (hahahahaha). Um dia em casa, chuvoso, debaixo da coberta, comendo bolacha (acho) e vendo o ícone da minha geração. Era um dia perfeito pra alguém com 6 anos. Até hoje ainda posso sentir o clima daquele dia. Das Tartarugas, me lembro de quando ia para a casa do Thiago na hora do almoço esperar para ir para a escola. Escola que era o pesadelo das crianças, afinal, era uma tarde "perdida", sem poder brincar, jogar video-game (graaaaande Turbo Game e seus poderosos 8 Bits). E minha última felicidade no dia (hehehehe, exagero, mas era uma criança) era poder ver o episódio das TMNT na TV. Era o último desenho do 'Xou da Xuxa', passava bem na hora do almoço. Eu via os quatro ninjas verdes mandarem o Technódramo (!) para a Dimensão X e depois começava minha tortura (escola). Puts, que tristeza era ver o fim do desenho, significava a hora de estudar (argh!).
Também me lembro de ir a locadora próximo a Eletropaulo, em frente ao Terminal A.E. Carvalho. A video-locadora ficava na parte de cima de uma padaria. Já era noite, chovia pra variar (volta a ser a 'terra da garoa' São Paulo!). Fomos minha mãe e eu ("o burro vem na frente", já dizia Professor Girafales) até a locadora alugar o filme que eu tanto queria ver. Quando cheguei e vi a capa parada ali parecia um sonho se realizando. Já podia ler a palavra 'dublado' com lágrimas nos olhos. Depois de locada, ainda no caminho até minha casa (não era longe, cerca de 10 minutos de carro), já podia imaginar as várias cenas no poderoso videocassete de 4 cabeças (para os mais novos, não eram nenhum monstro mutante ou coisa parecida). Ao assistir, apenas a pequena decepção de não ver a dublagem exatamente como no desenho, nada que estressasse tanto uma criança. Mesmo assim, ainda me lembro. Lembro de cada detalhe, lembro de cada momento de satisfação. De uma coisa tão pequena e tão simples, trazer recordações tão saudosistas.
Hoje em dia não sou mais criança (pelo menos não no aspecto físico, hahaha), mas ainda vejo esses filmes e/ou desenhos com um ar de nostalgia. Uma nostalgia inexplicável, difícil de ser substituída. Quando estiver no leito de morte (puts!), ainda vou me recordar desses momentos tolos como se fosse a melhor fase da minha vida, talvez porque realmente sejam. Me embrulha o estômago imaginar que um dia pudesse viver só mais um segundo dessa época. Só mais um, nem mais, nem menos. Ficaria para a eternidade, a minha eternidade.
Hoje, vejo os desenhos da TMNT e dos GB como relíquias. São toscos, assim como os filmes. Estão longe de serem obra-primas. Mas pra mim, estão na galeria dos melhores de todos os tempos. Porque me fazem viajar no tempo, me fazem sentir melhor em dias difíceis, me livro dos problemas do trabalho, dos problemas pessoais. Volto a uma era mágica da infância, quando coisas pequenas marcaram mais que grande acontecimentos na vida adolescente ou adulta. Era em que dinheiro significava moedas pra comprar balas no bazar do seu 'Zé'. Era em que problema sério era perder um episódio do Jaspion, do Jiraya ou do Giban sem reprise no outro dia. Era em que a família estava reunida em casa, juntos. Era em que se divertir não era pegar um carro e andar a 200km/h pra ir a uma festa, mas ir na campainha do vizinho chamar seus amigos pra brincar de pega-pega na rua.
Cada filme, cada desenho, cada dia frio debaixo da coberta... saudade que corrói, dói saber que se foi. E que não voltará. Nossa, que saudades!
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