segunda-feira, 30 de março de 2009

I.O.U.S.A.

Ontem, no canal GNT, logo após o (excelente) Manhattan Connection, foi exibido o documentário estadunidense I.O.U.S.A.; Esse documentário aborda o tema político mais importante nos EUA no momento, a estratosférica dívida pública. Realmente interessante para saber como o "país mais rico do mundo" (em palavras de uma das pessoas apresentadas no filme) entrou em uma crise que, parece, pode fazer o sistema financeiro do país entrar em colapso (talvez, não para um futuro tão próximo).

Como eu já disse aqui algumas vezes, os EUA são o país mais ombudsman do mundo. E esse documentário prova que isso é verdade. A lavação de roupa suja de forma pública, em um video que pode ser visto no mundo todo, mostra o quão a situação é grave. O diretor Patrick Creadon conseguiu sintetizar bem em pouco mais de 1 hora de video como a situação chegou ao ponto que está hoje - praticamente sufocante.

O documentário é divido em quatro capítulos. No primeiro, mostra o Budget Deficit, a forma como sempre fora administrada a economia americana, desde sua independência (e como a dívida foi aumentando). Em um infográfico bem interessante, fica claro a tremenda montanha russa que esse déficit sofreu ao longo dos anos. Sua acentuação em tempos de guerras e grandes crises (como a da década de 30 que não poderia passar batida em um documento como esse). Interessante como é mostrado a opinião de algumas pessoas a respeito, coisa bem tradicional em um documentário. Na verdade, entenda-se "opinião" como desconhecimento. Não que isso seja exclusividade americana, em todos os países a população desconhece como as dívidas públicas são geradas. Pequenos grupos de corajosos tentam alertar sobre o que realmente importa na vida das pessoas, um deles mostrado durante o documentário, quando alguns jovens tentam (em vão) alertar as pessoas frente a uma faculdade. Claro que poucos sequer se interessam de verdade. Aliás, o documentário é, praticamente, baseado nisso. Um alerta para os rombos que a economia vem gerando devido o descaso do governo (como a impressão de dinheiro descontrolado, desvalorizando a moeda), a despreocupação da população e a falta de fiscalização. Para esse alerta, foram escalados Robert Bixby (diretor do Concord Coalition) e David Walker (U.S. Comptroller-General), ambos viajando pelo país para apresentar os números claustrofóbicos que a economia está se metendo, através de suas instituições. Já o segundo capítulo, foca o modo como os americanos (e o governo, por tabela) tem reagido na crise com relação as poupanças. O dinheiro "seguro" que, em tempos de crise, serve para amenizar os males. Ou a falta dele. Os 'savings' estão desaparecendo diante do consumismo sem precedentes da população americana em geral, inclusive com uma sátira com o ator Steve Martin, lembrando que se deve comprar "apenas aquilo que se pode pagar". Não que os americanos (e, convenhamos, todo o resto do globo) façam isso. O terceiro capítulo é onde o "Trade Deficit" é gerado. Não passa da balança comercial. O "arroz com feijão" de exportar pelo menos a mesma quantidade que importar para manter suas contas equilibradas. E, óbvio, isso também não foi feito. Apesar de ser um dos maiores exportadores do mundo, é nítido que os EUA são os maiores importadores. Inclusive, é mostrado como a sucata americana sai do país a preços baixíssimos e volta em forma de produtos caros industrializados (feitiço contra o feiticeiro), tornando o rombo cada vez maior.

E aí vem o quarto capítulo: hora de detonar o Mr. Bush filho. O "Leadership Deficits", tratado de forma justa como o pior de todos, pois é onde a coisa é gerada. A forma como o último governo estadunidense (de dois mandatos), usando guerras e corte de impostos como pretexto, quase dobrou a dívida americana que vinha desde sua independência, mas em apenas 8 anos. E como a coisa chegou ao patamar atual, com estouro da crise imobiliária e as consequências que serão pagas pelos filhos e netos dos que atualmente fazem isso (incluindo o povo americano). O "seguro social" pode entrar em colapso até 2040, quando o governo não conseguirá pagar mais a aposentadoria e suas contas. Claro que, no final, até em clima nostálgico, são mostradas as soluções simples de como melhorar a situação - afinal, essa é a intenção do documentário. Mas isso passa quase como um segundo plano diante das aberrações político/econômicas mostradas, que estouram sempre no social. É mais uma forma de se pensar como as coisas estão sendo feitas, servindo inclusive de espelho para o Brasil.

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